Esta página tem por finalidade colocar à disposição dos meus alunos da Escola Teológica Rev. Celso Lopes o material referente às aulas da matéria título do blog.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Aula 2 - 1º Culto Evangélico no Brasil


No dia 10 de março de 2007, completaram-se 450 anos que, na ilha de Villegaignon, então Forte de Coligny, se celebrou o primeiro culto evangélico, segundo o rito calvinista, em terras do Brasil e, aliás, da América do Sul.
A instâncias de Villegaignon, o grande reformador Calvino e a Igreja de Genebra prepararam uma leva de huguenotes para virem se estabelecer na, então, França Antarctica, afim de solidificar e desenvolver a colonização desta parte da América que deveria ser, também, um lugar de refugio para os protestantes perseguidos na França e demais paises da Europa.
À frente desse bando de heróis da fé, a constituírem OS PIONEIROS DAS MISSÕES, entre os silvícolas americanos, fora posto o venerando Felippe de Corguilleray, senhor du Pont, amigo e visinho do grande almirante Gaspar de Coligny, quando estivera em Chastillon sur Loing. Acompanhavam-no dois ministros evangélicos: o ancião Pierre Richier, de cinqüenta anos de idade, e Guillaume Chartier, mais moço, de trinta anos de idade.
Além desses dois pastores, formados em teologia, profundamente conhecedores das Sagradas Escrituras, participaram da viagem os seguintes aspirantes ao ministério e profissionais em varias artes: Pierre Bourdon (excelente torneiro), Matthieu Verneuil, Jean du Bourdel, André la Fon (alfaiate), Nicolas Dénis, Jean Gardien (perito retratista), Martin David, Nicolas Raviquet, Nicolas Carmeau, Jacques Rousseau e Jean de Lery, o clássico historiador desta viagem e da estadia desses destemidos missionários evangélicos no Brasil.
Tendo essa comitiva partido de Genebra a 16 de setembro de 1556, demandou, primeiramente, a Chastillon sur Loing, onde os huguenotes tiveram a oportunidade de encontrar-se com o grande almirante Coligny. Daí seguiram para Paris, onde se demoraram um mês, e onde outras pessoas se agregaram à expedição.
De Paris passaram a Rouen e desta a Honfleur, porto de mar, na Normandia, de onde, depois de quase um mês, a 19 de novembro de 1556, embarcaram, em demanda do Brasil. Cumpre, porém, notar que esta expedição não se compunha somente de protestantes, como tantas vezes se tem feito crer. Na sua maioria absoluta era composta de católicos romanos.
Foi Bois le Conte, sobrinho de Nicolas Villegaignon, quem à custa do rei, organizara a frota que trouxe os huguenotes ao Brasil. Esta frota se compunha de três navios: o Petite Roberge comandado por Bois le Conte, então aclamado vice-almirante, e que trazia cerca de 80 pessoas, inclusive soldados e marujos; o Grand Roberge, que trazia 120 pessoas e por capitão o sr. de Sainte Marie, apelidado Espine, e o Rosee, assim chamado em razão do que o comandava, e que trazia a bordo 90 pessoas, inclusive 6 rapazes, que vinham para aprender a língua brasileira, e cinco donzelas, dirigidas por uma matrona, que foram as primeiras mulheres francesas que arribaram a estas plagas sul-americanas. Eram, portanto, ao todo, 290 pessoas, das quais somente 16 eram protestantes calvinistas!
Entretanto, os atos de pirataria realizados por le Conte, muito bom católico romano, e de seus marinheiros, também católicos, como expressamente declara Lery, têm sido atribuídos aos calvinistas! Na ocasião, entretanto, é certo que Lery, e com ele os protestantes, francamente os condenaram!

«E cumpre (pois vem de propósito), diz Lery, que diga aqui de passagem, que, neste primeiro encontro de navio, vi praticar no mar o que mais freqüentemente também se pratica em terra, a saber: que aquele que tem armas em punho e é mais forte supera e dá leis ao companheiro. Verdade é que os srs. marinheiros, fazendo arriar velas e se aproximar dos míseros navios mercantes, alegam ordinariamente que andam por muito tempo, forçados pelas tempestades e calmarias, sem poder tomar terras nem porto, e estão no mar necessitados de viveres, de que pedem para ser supridos, mediante pagamento,
Se, porém, sem este pretexto podem por pé a bordo do vizinho, não pergunteis se vão impedir o navio de afundar-se; ali o descarregam de tudo quanto lhes parece bom e proveitoso. E, se porventura alguém adverte, (como de fato sempre o fazíamos) que nenhuma ordem existe para assim saquearem indiferentemente amigos e inimigos, respondem com o estribilho comum dos nossos soldados de terra em caso semelhante, dizendo ser de guerra e de costume, e que, portanto, desempenha o seu ofício quem segue os estilos» (Lery, Historia de uma viagem á terra do Brasil, cap. II, §§ 5.o e 6.o)
Só a 7 de março de 1557, demandara a frota de Bois le Conte à barra do Rio de Janeiro, e somente a 10 do mesmo mês, conseguiu definitivamente desembarcar esta celebre expedição, no Forte Coligny.
Imediatamente, du Pont, acompanhado dos ministros Pierre Richier e Guillaume Chartier, se apresentou diante de Villegaignon, declarando-lhe a causa principal que trouxera os cristãos evangélicos às terras brasileiras, que outra não fora senão atender às solicitações do sr. almirante em fundar, neste país, não só a Igreja Reformada mas um refúgio aos que fossem, na Europa, perseguidos pela intolerância inquisidora do Papado.
Ao que respondeu o sr. Villegaignon: «Quanto a mim, tenho na verdade desde muito tempo, e de todo o meu coração, desejado tal coisa e os recebo de mui boa vontade em tais condições; até porque desejo que a nossa igreja tenha fama de ser a mais bem reformada de todas. Desde já quero que os vícios sejam reprimidos, que o luxo do vestuário seja reformado e, em suma, que do meio de nós se remova tudo quanto nos possa impedir de servir a Deus.»
«Depois», acrescenta Lery, «levantando os olhos ao céu e juntando as mãos, disse:
— Senhor, rendo-Te graças de me haveres enviado o que desde tanto tempo tenho ardentemente pedido.
«E de novo aos nossos companheiros disse: — «Meus filhos (pois quero ser vosso pai) assim como Jesus Cristo neste mundo nada fez para Si, e tudo fez por nós, assim também eu (esperando que Deus me conserve a vida até que nos fortifiquemos neste país e possais dispensar-me) tudo quanto pretendo fazer, aqui, é para todos aqueles que vêm ao mesmo fim que vós viestes. Delibero constituir aqui um refugio para os pobres fieis, que forem perseguidos em França, na Espanha, e em outra qualquer parte de além-mar, afim de que, sem temor do rei, nem do imperador, ou de outras potestades, possam servir a Deus com pureza, conforme a Sua vontade.» (Opus cit. cap. Vl, §§ 1 e 3)
Proferidas estas palavras, reunindo-se todos numa sala que havia no meio da ilha, e depois que Pierre Richier invocou a presença do Divino Espírito Santo, cantou-se o SALMO QUINTO do qual reproduzimos a tradução, em poesia portuguesa, feita pelo muito ilustre poeta Padre Caldas, e que se acha em nosso hinário – CâNTICOS SAGRADOS – sob o número 2.
Minhas palavras atende,
O’ Senhor, e a meus gemidos
Inclina os Teus ouvidos ;
O’ meu Deus, meu Soberano,
A minha oração Te rende :
Tu m’escutas, mal o humano
Vê luzir, no etéreo posto,
D’aurora o mimoso rosto.
Na grandeza confiado
De Teu terno coração,
Minha humilde adoração
Eu irei no templo Teu
Ofertar-Te, penetrado
De respeito e de temor.
Ah! Deus meu, vem me guiar
Vem meus passos segurar.
No peito que em Ti confia,
Tu, Senhor, habitarás ;
De prazer o embeberás,
Sempiterno e sublimado;
Nadando em gloria á porfia
E por Ti abençoado ;
E, qual escudo, o defende
Teu braço que tudo rende.
Após este cântico, Richier fez um eloqüente sermão, tomando por suas as seguintes palavras do Salmo 27, versículo 4, segundo a excelente tradução do ex-Padre – Santos Saraiva: — Uma coisa tenho pedido a JEHOVAH a qual eu buscarei; que assista eu na casa de JEHOVAH, todos os dias de minha vida, para de JEHOVAH contemplar o esplendor, e recrear-me em Seu templo.
Durante a prédica, Villegaignon não cessava de juntar as mãos, levantar os olhos para o céu, dar altos suspiros e fazer vários gestos que a todos causavam admiração. Para o venerando Richier, Villegaignon era um novo Paulo!
O almirante ordenou que em todas as noites se realizasse o serviço divino. Aos domingos, houvesse culto e pregação do Santo Evangelho duas vezes, e os sacramentos fossem administrados conforme a pura Palavra de Deus.
Quanto à disciplina, exigia que fosse severamente aplicada aos delinqüentes.
De conformidade com estas ordens, desde a memorável QUARTA-FEIRA, DEZ DE MARÇO DE 1557, começaram a ecoar sobre as ondulantes e esmeraldinas águas da formosíssima Baia de Guanabara, que eles então chamavam RIO DE GÈNÉVE, os sagrados cânticos arrancados de fervorosos peitos a cultuarem as esperanças de vida eterna, segundo os sacratíssimos ensinamentos de Jesus Cristo.
Ah! foram, porém, por pouco tempo, porque, desde logo, a hipocrisia, desmascarando-se, a pouco e pouco, veio perturbar, afligir e banhar em sangue este abençoado solo!
A 21 de março deste mesmo ano de 1557, celebrou-se pela primeira vez, segundo o rito evangélico, a Santa Ceia, fazendo Villegaignon, por duas preces ao Deus Altíssimo, a profissão de sua fé, depois do que, de joelhos, recebeu das mãos do venerando Pastor Pierre Richier os sagrados elementos da Comunhão.
«E assim", assevera o historiador Lery, « abjurou o almirante suas crenças no Papismo.» Por esta ocasião, também abjurou o Romanismo um FRADE chamado Jean de Cointac, que fora estudante da Sorbonne, e que se dizia chamar Hector.
Chagara este clérigo em companhia dos huguenotes e, provavelmente, a eles se ajuntara quando, em Paris, permaneceram cerca de um mês.
Foi justamente este Frade Cointac o fomentador de toda a discórdia, como expressamente o declara Villegaignon, pois suscitara questões sobre a consagração de vasos especiais para administração do Sacramento Eucarístico; sobre ser ou não o pão fermentado; sobre o uso de vestes sacerdotais; sobre o uso de sal, azeite e saliva, na administração do Batismo; sobre a significação das palavras sacramentais, si importavam ou não a consubstanciação ou transubstanciação, etc. Nestes debates, Villegaignon acabou por tomar proeminente parte, a ponto de completamente romper com os calvinistas, não convindo mesmo, como combinara, esperar resposta da consulta enviada a Calvino por intermédio do Pastor Guillaume Chartier.
Entretanto, a 17 de maio deste mesmo ano de 1557, o ex-FRADE Jean de Cointac desposou uma das donzelas que vieram de França, parente do negociante La Rouquette, de Rouen. Tendo este negociante falecido, algum tempo depois da chegada dos huguenotes, deixara como sua universal herdeira aquela moça, sua sobrinha. O ex-FRADE, cobiçando a moça e a fortuna, resolveu desposá-la! Celebrou a cerimonia religiosa deste primeiro casamento de um ex-FRADE, no Brasil, o mesmo venerando Pastor Richier.
Apesar das novas relações no lar e no comércio, Cointac persistiu em suas controvérsias, a ponto de romper com o mesmo Villegaignon, que o constrangeu a sair do seu Forte, pouco tempo depois de seu enlace matrimonial «como sendo uma boca inútil "!
Este ex-FRADE Cointac, no dizer de Lery e de Crespin, tornou-se implacável inimigo dos calvinistas e, o que é mais interessante – e descoberta mui recente – tornou-se o traidor não só de Villegaignon, mas também de sua Pátria! Foi provavelmente em agosto, ou setembro de 1557, que o ex-FRADE Jean Cointac, fora expulso do Forte Coligny. Ainda que sofrendo todas as humilhações possíveis, os huguenotes ali permaneceram até o mês de outubro, quando resolveram também romper definitivamente com Villegaignon, que não mais podia igualmente tolerá-los.
Passados para o continente, nas fraldas do morro do Castelo, então chamado morro de Henri, no lugar denominado Olaria – Briqueterie – domiciliaram-se os huguenotes em uns casebres, que os operários franceses haviam construído, quando para ali se dirigiam aos afazeres da pesca. E ali aguardaram a chegada de embarcação que os pudesse transportar para a Europa, o que somente conseguiram a 4 de janeiro de 1558, a bordo de um velho navio chamado Jacques.
Assentira Villegaignon que os huguenotes regressassem à França, porém o fez com o mais perverso intento, porque, enviando por eles um documento devidamente lacrado, para ser entregue às autoridades daquele país, nele denunciava os seus portadores como perigosos hereges que deviam sofrer o ultimo suplício!
Depois de sete ou oito dias de viagem, o Jacques começou a fazer água, e por tal modo ameaçava ir ao fundo, que o seu comandante alvitrou a du Pont e seus companheiros regressarem ao Brasil.
Como du Pont manifestasse estar decidido a seguir viagem, somente cinco desventurados calvinistas se resolveram a voltar para a baia de Guanabara, e foram os seguintes: Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André la Fon e Jacques le Balleur.
Aqueles, depois de penosíssima viagem, chegaram à França, onde foram bem recebidos pelas autoridades que eram simpáticas à Reforma, e, assim, ficaram livres da ultima traição de Villegaignon – desde então chamado o CAIM DA AMÉRICA!
Estes, que retrocederam, depois de vagarem muitos dias à mercê das ondas, sofrendo as torturas da fome, chegaram ao continente, onde foram hospitaleiramente recebidos pelos selvagens. Demandaram, depois, o aldeamento dos franceses, que estavam em terra firme, os quais instaram para que não comparecessem perante Villegaignon. Não obstante estes conselhos, se apresentaram ao almirante. Este os recebeu, aparentando bom grado, e até permitindo-lhes que ficassem no continente.
Doze dias depois, a 8 de fevereiro, suspeitando que fossem traidores e ali representassem o papel de espiões de du Pont e Richier, não tendo, porém, coragem de justiçá-los por tais suspeitas, exigiu Villegaignon que eles fizessem por escrito, dentro de doze horas, uma precisa e clara profissão de fé. Na excelente obra recém publicada pelo sr. Domingos Ribeiro – a Tragédia de Guanabara, os leitores encontrarão a narrativa completa desses tristíssimos acontecimentos.
Os franceses domiciliados em terra ainda insistiram para que eles não dessem por escrito tal confissão, pois seria o móvel para Villegaignon cevar sua sanguisedenta tirania. Não obstante tais conselhos, quatro deles resolveram escrever a confissão, incumbindo do trabalho de responder aos artigos propostos por Villegaignon – o mais velho e instruído dos quatro – Jean du Bourdel, a cuja assinatura acrescentaram os seus nomes: Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon e André la Fon. Deixou de assinar esta confissão o grande heróis da fé – Jacques le Balleur, cujo nome completo supomos ser JEAN JACQUES LE BALLEUR.
Tendo em suas mãos aquela confissão plena de fé evangélica, Villegaignon, a 9 de fevereiro de 1558, mandou prender e martirizar a Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil e Pierre Bourdon, os quais, após o estrangulamento, ainda semi-mortos, tendo as mãos e os pés atados, foram lançados nas águas do mar junto ao recife do Forte de Coligny! E, assim, ficou transformada a mais bela baia do mundo em preciosíssimo relicário dos primeiros mártires da plena liberdade de consciência e do Evangelho, na América do Sul!
André la Fon foi poupado, visto ter prometido não se conservar obstinado em erros doutrinários, uma vez provados como tais, pela Sagrada Escritura. Da expedição chegada a 7 de março de 1557, o ultimo huguenote, que sofreu o martírio, foi JACQUES LE BALLEUR, enforcado no Rio de Janeiro, dez anos depois, em 1567, quando se lançaram os fundamentos desta Capital.
Morreram esses nobres cristãos, mártires da intolerância e do fanatismo, mas o Cristianismo não morreu! E hoje, graças a constância dos pegureiros da cruz de Cristo, nesta cidade, batizada com o sangue dos huguenotes, estão estabelecidas dezenas de Igrejas Reformadas, há milhares de crentes evangélicos e levantam-se inúmeros templos cristãos como vitoriosos marcos do triunfo glorioso da liberdade de consciência e da plena liberdade religiosa!
Graças a Deus! – A Verdade triunfa!
(Extraído do Apêndice do livro "O MARTYR LE BALLEUR" Álvaro Reis, editado em 1917, escrito em português arcaico, e adaptado por Pedro Corrêa Cabral, em abril de 2007)

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Aula 1 - A Era dos Conquistadores


O Brasil e O Papel da Igreja

O primeiro europeu a navegar pelas costas do que hoje é o Brasil foi Vicente Yanez Pinzón, em princípios de 1500. Porém, nesse mesmo ano, o português Pedro Álvares Cabral partiu de Lisboa com uma forte esquadra com destino às índias. Seguindo instruções do Vasco da Gama, no sentido de que evitasse as calmarias da costa africana. Álvares Cabral desviou-se para o ocidente, e em 22 de abril seus vigias avista¬ram a costa brasileira. Depois de explorar a região por alguns dias, a frota continuou o caminho para a índia, porém não sem antes enviar um navio de regresso a Portugal, com notícias detalhadas das terras descobertas e de seus habitantes.
Segundo o que fora acertado entre Espanha e Portugal, e aprovado pelo papa, aquelas terras ficavam dentro do território que pertencia ao governo de Lisboa. Porém Portugal estava demasiadamente ocupado com suas empresas no Oriente, e durante um terço do século fêz-se pouco para colonizar aquelas costas. Durante esse tempo, houve várias viagens de explorações, e se estabeleceram contatos com os nativos da região. A única riqueza que se descobriu ali foi uma madeira, que foi chamada de "pau-brasil" que servia para produzir tintas e que deu seu nome ao país. O rei Manoel de Portugal concedeu o monopólio dessa madeira a um grupo de comerciantes portugueses. Estes estabeleceram pequenos postos comerciais, com armazéns, em diversos lugares da costa. Ali vivia um escasso número de portugueses que se dedicava a contratar os índios para que estes cortassem e levassem aos armazéns a madeira "pau-brasil", em troca de facas, machadinhas, agulhas, alfinetes e outras ninharias.
Logo, os franceses se interessaram por aquele comércio tão produtivo e começaram a competir com os portugueses. Seu método era um pouco diferente, pois o que faziam era deixar na costa alguns representantes, que viviam entre os índios, aprendiam seu idioma e serviam como tradutores e como agentes mercantis. Quando chegavam os barcos franceses, aqueles tradutores e seus amigos índios levavam a madeira até a costa, em troca de miudezas e utilidades semelhantes às que traziam os portugueses.
Naqueles primeiros contatos, os europeus se maravilharam da hospitalidade com que os índios os receberam. Além de darem a eles o que comer, ofereciam-lhes suas filhas como concubinas. Segundo as primeiras informações chegadas à Europa, tratava-se de uma nobre raça de selvagens, incrivelmente inocentes, sem religião nem governo. Em tais opiniões alguns historiadores têm visto uma sutil indicação do descon¬tentamento que começava a aparecer na Europa com respeito a igreja e aos governos. Dizer que os índios brasileiros eram perfeitamente felizes sem religião nem governo era dar a entender que talvez o mesmo poderia ocorrer na velha Europa.
Entretanto, aqueles quadros idílicos da vida no Novo Mundo logo cederam lugar a outras informações. Esses índios, que pareciam tão nobres e pacíficos, eram canibais.
Quando tomavam algum cativo de uma tribo inimiga, matavam-no com um golpe na cabeça, e o comiam em meio a uma série de cerimônias. Eram, além do mais, segundo se dizia, bastante materialistas, pois não entendiam mais do que a vida presente, e conseqúentemente dispostos a vender suas almas e mudar de religião em troca de uns anzóis e armas. Também não gostavam de trabalhar, pois se limitavam a semear a mandioca que necessitavam, e o resto do tempo passavam em caças, festas e danças.
Porém apesar das opiniões desencontradas sobre os índios, todos concordavam que as terras eram ricas, capazes de produzir, não só o pau-brasil que pouco a pouco ia desaparecendo das costas, mas também cana de açúcar. E visto que nessa época o açúcar era vendido a altíssimo preço nos mercados europeus, logo surgiram os que começaram a olhar para o Brasil com olhos cobiçosos.

As Capitanias
Foi então que o rei João III fez a entrega, a quinze favori¬tos seus, de vários territórios na costa brasileira. Estes territórios receberam o nome de "capitanias" e os "donatários" que os receberam tinham amplos privilégios, parecidos aos dos senhores feudais de então. A cada capitania correspondia cinquenta léguas de costa e todo o interior delas, até o meridiano das Tordesilhas em que começavam as possessões espanholas.
O sistema de capitanias não teve bom êxito. Cinco delas nunca foram ocupadas por seus donatários, e posteriormente oito das outras dez fracassaram. As que conseguiram subsistir foram a de Pernambuco, sob o comando de Duarte Coelho Pereira, a de São Vicente, que incluía São Paulo, e foi comandada por Martim Afonso de Souza. De fato, este último tinha começado sua empresa colonizadora em 1532, antes que a coroa dividisse todo o país em capitanias.
Visto que a partir daí o rei reservou para si o monopólio da madeira e das especiarias que pudessem haver, a principal fonte de riqueza para os colonos era a cana de açúcar. Mas seu cultivo, e a tarefa de produzir o açúcar, necessitavam de muita mão-de-obra. Era necessário aplainar os montes e limpar os campos antes de ará-los e semeá-los. Depois tinha-se que cortar e moer a cana. E finalmente era necessário ferver seu caldo, e para isso se necessitava de cortar lenha. Assim, o único modo em que essa indústria poderia tornar-se lucrativa era mediante o trabalho dos índios. Contudo, estes se negavam a trabalhar nos campos, preferindo a caça e a pesca, e alegando que essa era tarefa para mulheres. Os artefatos que antes serviam para comerciar com os índios não eram mais suficientes para motivá-los ao trabalho nos campos de cana ou nos engenhos.
Foi assim que surgiu a escravidão dos índios. Portugal, diferentemente da Espanha, demorou muito em legislar sobre se era lícito ou não escravizar os nativos do Novo Mundo. E quando essa legislação saiu, foi sempre ambígua e ineficiente. No princípio, os colonos compravam escravos de seus vizinhos índios, em troca de ferramentas e diversas miudezas. Estes, por sua vez, atacavam os inimigos tradicionais, e os submetiam a escravidão, e se os trouxessem aos portugueses, estes justificavam esse comércio explicando-lhes que estavam salvando as suas vidas como prisioneiros de guerra pois de outro modo seriam mortos e comidos pelos vencedores.
Porém, esse método de conseguir escravos não foi suficiente, em parte porque os índios amigos, uma vez saciada sua necessidade de armas, machadinhas e anzóis, etc., não tinham maior interesse em continuar comerciando com seus vizinhos europeus. Começou-se então a incitar as tribos a guerrear umas contras as outras, dando-lhes toda a sorte de desculpas. Além disso, logo apareceram os traficantes portugueses, que descobriram que o modo mais barato e economicamente proveitoso de fazer escravos era navegar pelas costas e fazer cativo qualquer índio que caísse em suas mãos. Na teoria, só era lícito escravizar os índios conseguidos em "guerra justa". Porém as autoridades sabiam que as colónias não podiam subsistir sem o trabalho dos escravos, e portanto sempre foi possível encontrar alguma razão para justificar as excursões dos traficantes.
Outro modo de satisfazer a demanda de escravos foi trazê-los da África. Os índios começaram a penetrar cada vez mais no território, e assim sua captura se tornava mais difícil. Além disso, uma vez trazidos para as plantações e para os engenhos, sempre sonhavam em regressar para os seus, e lhes era relativamente fácil desaparecer na selva. Os africanos, por outro lado, provinham de climas semelhantes aos do Brasil, porém não tinham os contatos com tribos do interior, como índios e, conseqüentemente, era-lhes mais difícil escapar. Além do mais, alguns missionários, em seus esforços para defender os índios, estimulavam o tráfico de escravos africanos. E a tudo isso acrescente-se a relativa facilidade com que os barcos negreiros podiam atravessar o Atlântico desde o Congo, Angola ou Guiné. Assim, logo se somou aos portugueses e aos índios um grande número de escravos negros.
A vida daqueles primeiros colonos era licenciosa e desor¬denada. Muitos tinham várias comcubinas índias, e alguns contavam com dezenas delas. Algumas dessas mulheres eram escravas, e outras lhes tinham sido dadas por seus pais em sinal de amizade. Os pactos selados desse modo eram utilizados para incitar essas tribos amigas a lutar contra os franceses ou outras tribos, na maioria das vezes para apoderar-se de suas terras e pessoas.

A colónia real
Aquele regime sem lei não podia durar muito tempo, sobretudo porque as duas capitanias que tinham obtido êxito tornaram-se em extremo lucrativas. Tanto para estabelecer a ordem como para apoderar-se de maiores riquezas, em 1549, o rei fez do Brasil uma colónia real e comprou seus direitos dos donatários. Junto com o primeiro governador, Tomé de Souza, chegaram os primeiros jesuítas, sob a direção de Manoel da Nóbrega. Pouco depois, em 1551, Júlio III nomeou como primeiro bispo do Brasil, Dom Pêro Fernandes Sardinha.
Esse primeiro governador mostrou ser uma pessoa hábil, que regeu os destinos da colónia durante quatro anos, mantendo a concórdia com os índios vizinhos e assegurando-se de que o poder real fosse obedecido por todas as capitanias, e não só em Salvador (Bahia), onde estabeleceu a primeira capital.
O bispo mostrou ser menos sábio. Logo conseguiu a inimizade dos colonos e não se ocupava em nada com os índios. Os conflitos com o governador não se fizeram esperar, e o bispo decidiu partir para Portugal levando suas queixas ao rei. Porém naufragou, e ele e seus acompanhantes foram mortos e comidos pelos índios nas costas do hoje estado de Alagoas.
O segundo governador foi ineficiente e foi substituído em 1558, por Mem de Sá. Este era uma pessoa firme e aguerrida, de grande habilidade política e diplomática. Logo teve umas tribos guerreando contra as outras, ao mesmo tempo em que mostrava a força das armas portuguesas. Os índios, que tinham começado a inquietar-se sob o governo anterior, se encheram de terror. Aos que não foram mortos ou fugiram para as selvas do interior, o governador obrigou a viver em povoados dos jesuítas.
De modo semelhante ao Paraguai e outros lugares, os jesuítas do Brasil tinham chegado a conclusão de que o melhor meio de evangelizar os índios era fazendo-os viver em aldeias, sob a supervisão de um dos jesuítas. Por isso se alegravam com os triunfos de Mem de Sá. Um deles expressou seu contentamento com o terror que o governador havia semeado entre os índios, dizendo: "todos tremem de medo diante do governador, e esse medo, ainda que não dure pela vida toda, nos basta para ensinar-lhes... Esse medo os ajuda a ouvir a Palavra de Deus".
Isso demonstra uma diferença notável entre as aldeias jesuítas do Brasil e do Paraguai. Nas desse último país, como dissemos, tratou-se de ser seguido um método pacífico. Sacerdotes tais como Roque Gonzales faziam todo o possível para convencer os índios que lhes convinha viver em aldeias, e muito raramente apelaram para as armas dos conquistadores. Ainda mais, os jesuítas do Paraguai logo decidiram estabelecer seus povoados o mais distante possível dos colonos brancos, pois temiam o contato entre seus índios e esses colonos. Os do Brasil, pelo contrário, fundaram suas aldeias pela força, e os índios iam para elas porque lhes parecia ser o único modo de escapar da morte ou da escravidão.
Por sua parte, os jesuítas receberam agradecidos essa ajuda do braço secular, e lhes devolviam esse favor oferecen¬do aos colonos o trabalho dos índios de suas aldeias. No princípio esse trabalho era remunerado. Porém, dada a enorme autoridade dos sacerdotes nessas aldeias, e dado o sistema de propriedade em comum, posteriormente tornou-se um sistema de trabalho forçado, do qual os índios não podiam escapar, e que se administrava mediante acordos entre os sacerdotes e os colonos.
O êxito dessas aldeias, segundo o mediam os missionários, foi enorme. Logo os pequenos aprenderam os princípios do catolicismo e a moral que os missionários lhes ensinavam, e se dedicaram a converter seus pais, e até delatá-los quando não seguiam os preceitos da igreja. Os pequeninos que faziam tais coisas eram premiados e lisonjeados. Visto que todas as tradições dos nativos estavam intimamente ligadas à sua religião, quase todas elas foram extirpadas pelos missionários, com a ajuda de seus jovens convertidos.
Em fins do século XVI, havia no Brasil 128 jesuítas, e quase todos os índios que se tinham submetido aos portugueses tinham vivido debaixo de suas tutelas.
Entretanto a reação indígena não se fez esperar. Logo apareceu um culto messiânico que combinava elementos do cristianismo com outros vindos das tradições do lugar. Quando as aldeias dos jesuítas sofriam de enorme mortandade devido a uma epidemia de varíola, os índios começaram a falar de um salvador, a quem chamavam "Santo", que os livraria do jugo dos portugueses, e faria deles seus escravos. Esse culto, que recebeu o nome de santidade, logo se espalhou tanto entre os índios dominados como entre os que continuavam escondidos nas selvas, e serviu de ponto de contato entre os dois grupos.
Em 1580 a santidade preocupava sobremaneira as autoridades, e o novo governador decidiu fazer uso de um mestiço, a quem os portugueses chamavam de Domingo Fernandes Nobre, e os índios, de Tomocauna, para pôr fim a ameaça daquele movimento. Tomocauna era um traficante de escravos que se acostumara a penetrar no coração do Brasil, ganhar a confiança de alguma tribo, e regressar com milhares de escravos. Tomocauna dirigiu-se ao quartel general da santidade, onde moravam o "papa" e sua esposa, "a mãe de Deus". O resultado da sua expedição foi que convenceu a um bom número dos adeptos desse culto que lhes convinha viver na plantação do colono Fernão Cabral de Ataíde, que havia custeado a empresa. Junto com aqueles índios, Tomocauna regressou às terras de Cabral, e este os recebeu e lhes permitiu viver ali, em troca de seus trabalhos.
Em 1591 chegou a Inquisição ao Brasil. Entre os proces¬sados por ela estavam Fernão Cabral e sua esposa, acusados de terem adorado o ídolo da santidade, ao qual chamavam "Maria". Eles disseram que o haviam feito só para contentara seus hóspedes, porém o Santo Ofício condenou-os a dois anos de prisão.
Quanto à Tomocauna, regressou ao monte, onde se fez amigo do papa António, chefe da santidade, e os seguidores dessa seita chegaram a venerá-lo com o nome de "São Luiz".
A acusação de que foram objeto Cabral e sua esposa foi típica dos processos da Inquisição daqueles tempos. No que se referia ao modo pelo qual os colonos tratavam os índios, ninguém foi acusado de escravizar ilegalmente, de explorá-los ou de matá-los. Porém, muitos foram acusados de lhes vender armas, de participar de suas cerimónias e, sobretudo, de co¬mer carne na Quaresma quando estavam vivendo em suas aldeias.

Villegagnon e os primeiros protestantes
Durante a primeira metade do século XVI, os francesesse se contentaram com visitas às costas do Brasil para comerciar com os índios. Porém, nos meados do século, começaram a interessar-se em estabelecer uma colónia permanente na região. Com a responsabilidade desse empreendimento surgiu Nicholas Durand de Villegagnon, um hábil soldado que tinha se destacado em várias campanhas europeias.
Em fins de 1555, Villegagnon chegou à baía de Guanabara com sua flotilha de três navios. Nessa baía, haviam estado antes os portugueses e lhe haviam dado o nome de Rio de Janeiro. Porém, a colónia portuguesa teve que ser abandonada quando os índios tamoios, cansados dos maus tratos recebidos, a atacaram. Assim, os franceses não tiveram mais trabalho que declarar que eram inimigos dos portugueses para assegurarem-se de serem bem recebidos.
Villegagnon e os seus se estabeleceram em uma ilha da baía. Era um local ideal para a defesa, pois estava quase totalmente rodeada de altos montes. Os lugares mais vulnerá¬veis foram fortificados com a ajuda dos índios. Ao que parece, o lugar era inexpugnável. Porém seu ponto débil era a falta de água potável, que tinha de ser trazida de terra firme.
Com escravos comprados dos índios vizinhos, os franceses começaram todos os trabalhos próprios da colonização. Além do mais, visto que o projeto consistia em fundar uma colónia em que houvesse liberdade de cultos, Villegagnon escreveu a Calvino pedindo-lhe que enviasse pastores protestantes.
Desde o princípio, Villegagnon teve dificuldades com seus colonos. Muitos destes tinham vindo ao Novo Mundo para enriquecer-se. Porém seu chefe não lhes permitia escravizar os índios amigos, nem aceitar as mulheres que estes lhes ofereciam. Isto deu motivo para uma conspiração, porém Villegagnon inteirou-se dela, matou seu chefe e pôs os demais na cadeia.
O próximo contingente chegado da França, sob o comando de um sobrinho de Villegagnon, trazia pastores protestan¬tes enviados pelas autoridades genebrinas em resposta a solicitação recebida. Entretanto, isso aumentou as desavenças na pequena colónia. Os católicos acusavam os protestantes de tentar convertê-los, e estes acusavam os católicos de lhes oprimirem. Houve vários incidentes violentos. Finalmente, Villegagnon tomou o partido dos católicos e fêz'matar a cinco protestantes, e ordenou que os demais fossem expulsos da colónia. Entre os assim castigados se encontrava o pastor Jean de Léry, um dos poucos europeus que naquelas costas tentou entender os índios.
As crônicas que Léry deixou são umas das principais fontes que nos permitem conhecer, hoje, o modo pelo qual os índios viram a invasão de suas terras. Nelas se encontra a história do diálogo que o pastor teve com um ancião índio:
- Porque é que vocês, franceses e portugueses, vieram de tão longe buscar madeira para se esquentarem? Não existe madeira em seus países?
- Sim, existe — respondeu o pastor —, porém não como esta. Além do mais, não a queremos para queimar, mas para tingir as roupas, como fazem vocês com suas cordas de algodão e com suas plumas.
- E precisam de muita?
- Sim. No nosso país há comerciantes que têm muito mais telas, facas, tesouras, espelhos e outras coisas que vocês nem podem imaginar. Um só deles pode comprar toda a madeira que vem em vários barcos.
— Ah! O que você me conta é incrível. E esse homem tão rico, nunca morre?
— Sim. Morre como os demais.
- E o que se faz então quando morre com todas essas coisas que tem?
- Ficam para seus filhos, ou senão para seus irmãos ou parentes.
— Já me dou conta que vocês os franceses são loucos. Cruzam o mar com mil trabalhos e dificuldades... e trabalham com afã para acumular riquezas para seus filhos... Não bastaria a terra que alimenta vocês para alimentá-los a eles também? Nós também temos pais, mães e filhos a quem amamos. Porém confiamos que depois de nossa morte a terra que nos alimentou os alimentará também. Por isso podemos viver sem grandes preocupações.
O pastor Léry e outros estabeleceram boas relações com os támoios, e quando finalmente os portugueses atacaram os franceses, tiveram que enfrentar, não só a esses últimos, mas também seus aliados índios. Depois de graves baixas, uma expedição sob o comando do governador Mem de Sá tomou o forte francês. Porém, os támoios e os franceses refugiados dentre eles, continuaram oferecendo resistência por longo tempo.
Se bem que, a partir de então, não houve uma colónia francesa na Guanabara, os navios dessa nacionalidade continuaram visitando o lugar e reforçando a resistência dos tamoios e dos poucos franceses que restavam ali. Visto que alguns destes eram protestantes do ponto de vista português aquela luta se converteu em uma guerra religiosa. Era necessário desfazer-se dos hereges que manchavam aquelas terras católicas de Portugal.
A luta continuou por muito tempo. Os támoios derrotaram repetidamente os portugueses e aos seus aliados tupiniquins. Finalmente, os sacerdotes jesuítas Nóbrega e José de Anchieta empreenderam uma difícil embaixada entre os tamoios. Estes os receberam dispostos a aliar-se com os portu¬gueses, que recentemente tinham rompido com os tupiniquins, inimigos tradicionais dos tamoios. Ao aliar-se com os portugueses, os tamoios esperavam poder esmagar os tupiniquins. Graças a embaixada dos jesuítas, um forte contingente tamoio abandonou a luta ou se aliou aos portugueses.
Quando finalmente chegaram os reforços de Lisboa, os colonos não vacilaram em romper seus tratos com os tamoios. Muitos deles foram mortos ou foram feitos escravos, e o resto fugiu para o interior do país. Entretanto, franceses e portugueses fizeram as pazes, com a condição de que os primeiros abandonassem a região. Isso ocorreu em 1575, e com essa decisão chegou a um ponto final o empreendimento de Villegagnon, que durou uns vinte anos.

A triste sorte dos índios
O que sucedeu então com os támoios que restaram foi o indício do que posteriormente sucederia com quase todas as tribos que habitavam a costa brasileira. Os que não foram mortos ou escravizados se refugiaram nas selvas, onde invadiram os territórios de outros índios, com consequentes guerras e mortes. Pelo fim do século, o aventureiro inglês Anthony Knivet caiu em suas mãos, e conseguiu salvar-se persuadindo-lhes de que era francês. Pouco depois os convenceu a retornar para a costa e tratar de reconquistar suas terras. Aquela tribo de trinta mil membros se aproximava do mar quando foi atacada pelos portugueses. Dez mil morreram, e os outros vinte mil terminaram seus dias como escravos.
Esta triste história, como toda aquela empresa colonizadora, mereceu a justa condenação do sacerdote jesuíta Antó¬nio Vieira que, em meados do século XVII, referindo-se aos que pretendiam ir ao Brasil em busca de ouro, disse que seu verdadeiro propósito era apoderar-se dos índios, "para fazer correr de suas veias o ouro vermelho que sempre tem sido a riqueza dessa província".
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Sou pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, mestrando em Divindade (Magister Divinity), pelo CPAJ (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Sou também professor de História da Igreja, de Introdução Bíblica, e Cartas Gerais, na Escola Teológica Rev. Celso Lopes, em Maceió AL. Além disso, sou coronel-aviador da Força Aérea Brasileira, já reformado.

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